7.25.2011

Capitu

- Mas você ainda não me respondeu o que acha.

- Como assim? Claro que respondi! Falei que era dissimulada. E que ele falou disso logo no começo do livro.

- Ser dissimulada não significa ter traído ele.

Virou-se e olhou nos olhos dela. Com o rosto colado no carpete sentia vergonha de pensar coisas tão impuras dela. Pensar ou saber.

- Não, não significa, mas dá uma boa indicação da índole dela. Ser a pequena Capitu dissimulada é um passo pra amadurecer e virar a fruta podre que o trairia com o melhor amigo no futuro.

- Você tá falando merda. Ele era ciumento e descontrolado desde pequeno. Quando cresceu bastou um pouco de vinho para ficar paranóico. Não dava para ter uma mulher igual Capitu.

- “Uma mulher igual Capitu”?

- Inteligente, espontânea.. Vivia puramente e fazia o que queria, independente de quem precisava enganar.

- Dissimulada, portanto.

- “Não era dissimulada nesse ponto!” - Ela disse sentando no tapete e encostando a cabeça no sofá. Deu um gole na cerveja e acendeu outro cigarro na brasa do velho. "Dizia somente mentiras que não maltratava ninguém."

- Impossível não se apaixonar por Capitu. Suas danças, seus rabiscos no muro. Seu cabelo, lábios carnudos e olhos. Olhos de ressaca.

Ele se sentou ao lado dela e terminou a frase olhando bem próximo dos olhos dela.

- Capitu não é mulher pra ser amada.

Ela disse corando. Levantou e saiu, com lágrimas nos olhos. Ele julgava que eram de culpa. Desligou a televisão e apagou o cigarro dela no cinzeiro que estava no chão.

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