9.14.2011

Cena: Relógio, rosto, cama, fumaça.

01h20
Você sorri e entra no carro. Viro as costas e dou alguns passos.

02h37
Eu desligo o chuveiro após tentar esquecer da noite suja, onde menti pra mim mesmo enquanto sorria para você.

03h05
Estou deitado olhando para o teto, pensando em como deveria ter transformado o sorriso frouxo em uma confissão tardia.

04h01
Estou sentado com a cabeça apoiada na parede, colocando o copo vazio no colo. Voce insiste em rodear o quarto todo, me mantendo acordado.

04h59
Acendo um cigarro e apago a esperança de um dia ter voce nesse quarto.

(escrito em 06/08/2011)

8.21.2011

Cores (3 segundos):
O primeiro acorde daquela música que você ama, o sorriso falso virando verdadeiro.
A transformação do vermelho em verde. Verde molhado, verde água. Verde asfalto.
O arranque, fazendo a inércia trabalhar em um movimento brusco.
O sorriso falso voltando a estampar o rosto.

Controle (1 segundo):
O refrão daquela música te fazendo cantar, mesmo que em silêncio. O movimentar da alavanca fazendo a luz aumentar e diminuir, em um alerta luminoso. Uma movimentação, uma roda virando. O barulho de borracha riscando o asfalto em um movimento inapropriado, controle perdido.
O olhar estampando medo e manchando o sorriso, transformando em uma expressão inexpressiva. Folego, respiração que não saiu.

Infinito (0 segundo):
A sombra daquele último sorriso, ilustrado pelo movimento dos lábios pintados de vermelho. O último gole da cerveja gelada, o último cigarro apagado. A última dança acompanhada, a última gargalhada em uma conversa. O último eu te amo que não saiu. A confissão que "ficou para a próxima oportunidade", o abraço que nunca foi dado. O último acordar e abrir a janela, o último sorriso ao ver o rabo do cão abanando. O último olhar de amor para quem sempre esteve ao seu lado. O último suspiro depois do sexo, o último grito depois da briga. O último nascer.

Átomos (0,5 segundo):
Muro. Carro.
Muro e carro destruindo um ao outro e qualquer outra coisa no meio. A mão vacilante tentando agarrar todos os átomos do banco, em vão. Parede, muro, carro, grito. Grito. Infinito.

-

Início (0/infinitos segundos):

Movimentar de maçaneta, abertura. Liberação de adrenalina. Olhar apreensivo, visão embaçada.

O primeiro acorde daquela música que você também ama, mas agora de uma maneira diferente.

Gratidão.

7.25.2011

Capitu

- Mas você ainda não me respondeu o que acha.

- Como assim? Claro que respondi! Falei que era dissimulada. E que ele falou disso logo no começo do livro.

- Ser dissimulada não significa ter traído ele.

Virou-se e olhou nos olhos dela. Com o rosto colado no carpete sentia vergonha de pensar coisas tão impuras dela. Pensar ou saber.

- Não, não significa, mas dá uma boa indicação da índole dela. Ser a pequena Capitu dissimulada é um passo pra amadurecer e virar a fruta podre que o trairia com o melhor amigo no futuro.

- Você tá falando merda. Ele era ciumento e descontrolado desde pequeno. Quando cresceu bastou um pouco de vinho para ficar paranóico. Não dava para ter uma mulher igual Capitu.

- “Uma mulher igual Capitu”?

- Inteligente, espontânea.. Vivia puramente e fazia o que queria, independente de quem precisava enganar.

- Dissimulada, portanto.

- “Não era dissimulada nesse ponto!” - Ela disse sentando no tapete e encostando a cabeça no sofá. Deu um gole na cerveja e acendeu outro cigarro na brasa do velho. "Dizia somente mentiras que não maltratava ninguém."

- Impossível não se apaixonar por Capitu. Suas danças, seus rabiscos no muro. Seu cabelo, lábios carnudos e olhos. Olhos de ressaca.

Ele se sentou ao lado dela e terminou a frase olhando bem próximo dos olhos dela.

- Capitu não é mulher pra ser amada.

Ela disse corando. Levantou e saiu, com lágrimas nos olhos. Ele julgava que eram de culpa. Desligou a televisão e apagou o cigarro dela no cinzeiro que estava no chão.

1.18.2011

17/01/11

Tenho saudades. É inevitável. Eu sei que você sente isso também. Talvez quando toque aquela música, talvez quando pense em um show legal. Talvez quando você se irrita com alguém enrolado você deve pensar que conhece alguém assim. É inevitável dizer que eu te amo. Quando eu mandei aquele e-mail eu disse que sempre te amaria e, bom, é verdade. O Amor não acaba o que acaba é a paciência. Sim, eu sei que você está com alguém e acho isso o máximo. Admiro sua capacidade de amar e se entregar para alguém que valha a pena. Queria poder ser assim. Eu penso em você quase todo dia. Eu queria mais um dia olhando para seus olhos verdes e ver sua felicidade ali, me refletindo. Eu queria ter sido feliz com você, mas acho que sou incapaz de ser feliz com qualquer pessoa. Sou incapaz de ser feliz comigo. Sou incapaz de enviar esse e-mail. Sou incapaz até de te falar um oi quando te vejo online. Eu tenho medo de você sem mim. Eu tenho medo de mim sem poder ter você. Eu sei que errei, e sei que você não voltaria pra mim. Nem se eu pedisse. Eu queria poder te contar meu dia em uma mensagem que se resumiria a “estou cansado, quero você, te amo”. Eu queria poder te apertar de novo e te dar uma mordidinha de amor e te chamar de boba. Queria poder mandar aquela nossa letra repetidamente pra você. Queria poder olhar pra você e ter certeza que você me entende. Queria ter tentado, queria ter menos medo. Queria ter segurança. Queria você. Aqui. Agora. Comigo. Te amo, sempre.

12.09.2010

Chovia.

Ele tentava tirar da água as forças necessárias para dizer mas não conseguia.

Era simplesmente impossível dizer que ele finalmente tentara amar de novo e que ela era a pessoa que ele apostara todas suas fichas. A pessoa que ele queria poder dedicar as musicas e fotos, podendo olhar para seu sorriso e reconhecer sua própria felicidade estampada.

Ele respirou fundo e ela olhou pra ele. Sorriu e disse qualquer coisa que ele não entendeu por puro nervosismo.

Pensava em como aquele passo era importante e como ele sabia que dessa vez ele tinha que falar. Repirou fundo enquanto a água escorria em seu queixo. A chuva tinha apertado.

Ela olhou pra ele novamente e repetiu alguma coisa e ele decifrou que ela queria sair da chuva, mas novamente não ouviu.

Sempre achou que um dia a chuva o salvaria. Hoje, ele queria, mas entendia que não conseguiria dizer facilmente. Era exposiçao de mais.

Pensou novamente em como ele queria poder segurar ela nos bracos e dizer sussurrando que a amava. E quando isso acontecer, queria poder ligar no meio da noite para ela e dizer que tivera um sonho ruim e queria ouvir ela dizer que tudo ficaria bem. Queria poder busca-lá no rodoviaria só para poder dizer que ouvira uma banda nova e que ela tinha que assistir o novo filme que sairá no cinema. Queria poder amar e ser amado. Queria tentar novamente.

Respirou fundo e levantou a mão direita para tocar seu rosto, mas percebeu que ela não sorrira mais. Quando ele estava pronto pra tentar dizer ela chovia.

Chovia e escorria para a avenida iluminada pelas luzes de Natal.

10.29.2010

Inexorável

- Não me trata assim!
- Assim como?
- Como se eu fosse uma vadia.
- Mas você é uma vadia.
- Não fala assim!
- Assim como?
- Como se você não amasse ninguém.
- Eu não amo você.
- Mas você age como se amasse.
- Não, ajo como se você fosse uma vadia.
- Eu não sou uma vadia.
- Tá.
- Tá o que? Não quer conversar mais?
- Nunca quis. Não sobre isso, pelo menos.
- Você nunca quer conversar sobre isso, nem sobre nada.
- Palavras consomem muita energia para pouco efeito.
- ...
- Desculpa te chamar de vadia
- Tudo bem, eu sou uma vadia mesmo.

10.15.2010

Intensidade

(ou fogo)

Eu acho triste pra caralho, sabe? Acho triste como você pegou tudo que eu falei e virou do avesso. Desmereceu os detalhes que mais importavam mais que tudo pra mim. Tirou (de novo) a carta que dava sustentação ao nosso castelo. Eu nunca disse todas essas coisas que você inventou na sua mente. Mas não te culpo, é o tipo de coisa que você faz, sempre fez, e sempre vai fazer.

Acho que a mensagem completa é mais simples do que toda essa filosofia que eu sempre tento por pra deixar tudo mais intenso.
E mais intenso significa ao mesmo tempo o mais bonito e o mais doloroso.
A mensagem direta e simples é que eu te amo. Te amo, te amei e sempre vou te amar. E eu vivo repetindo isso, pra quem sabe, um dia, isso possa entrar nessa sua cabeça dura.
Eu te amo e é exatamente por isso que não posso forçar essa relação agora. Não estou pronto. Eu sei que poderia ser bom, mas pra nós o bom não é nem perto do que aceitamos. Nós só podemos ser se completos, se intensos. Nós não podemos ser um simples casal que fica 2, 3 meses juntos e acaba. Isso não seria justo pelo tanto que eu te amo.

Nós temos que ser intensos, 24 horas e explosivos. E não estávamos. Estávamos mornos e forçando essa situação.

É vão dizer o que eu acho que deveria ter acontecido, mas aprendi com você que é melhor dizer o óbvio do que ser mal compreendido.
Nós éramos como uma fogueira. Queimava sempre, quente e perigosa. As vezes as labaredas baixavam até a madeira e quase se extinguia. Mas o fogo não se extingue, ele diminue, cresce, desaparece por um momento, mas nunca se extingue. Outras vezes, queimávamos forte e ameaçávamos queimar toda a floresta. Na verdade, acho que essa era a vontade e o destino: queimar tudo que se aproximasse. Estávamos a caminho de tomar todo nosso corpo com esse fogo. Era uma coisa natural e incontestável, mas que tinha que acontecer no tempo certo.

Só que como disse a você uma vez, nunca estamos no tempo certo.

Acho triste que pra você isso seja cinzas. Daquelas que acabaram de virar, ainda quentes, lembrando do fogo que queimava momentos antes. Acho triste que tenhamos virado só mais um casal, com só mais um fim comum, com direito a palavras que machucam gratuitamente.

Acho triste, porque pra mim não somos cinzas, somos aquele fogo que parece que se apagou, mas no momento que o tempo secar a madeira e o raio cair, vai pegar fogo e incendiar tudo.
Ou pelo menos achava isso.

(texto inacabado)

10.05.2010

Hoje eu me peguei pensando que eu nunca conheci sua casa. Nunca entrei no quarto onde os textos que eu mais gostava de ler eram feitos.
Nunca conheci o lugar que sua gatinha dormia, acomodada no travesseiro onde sua cabeça dormia calmamente, soltando suspiros espalhados durante a noite.
Nunca conheci onde você preparava suas aulas que eu sempre quis assistir. Onde você editava suas fotos e lia os textos que eu escrevia, e pensava se era pra você.
O lugar que conversamos nossa conversa mais profunda. O lugar de onde você atendia o telefone sorrindo.

Nunca conheci o lugar que eu mais sinto falta nesses últimos dias.

9.30.2010

Fratura Exposta

Aconteceu há uns dois anos. Eu entrei em um novo emprego e ela estava lá, sentada com seu óculos na frente de seus olhos verdes e sua pinta na sua sobrancelha. Ela olhou pra mim assim que eu abri a porta e falou um "Bem vindo" timido.

Minha mesa era próximo à impressora e eu sempre esperava que ela imprimisse algo pra conversarmos.

Um dia chegou um e-mail dela. Ou foi um meu para ela, não sei. Conversamos, descobrimos afinidades. Mudei de lugar e comecei a sentar ao lado dela. Nos apaixonamos.

Vivemos indo e vindo por dois anos. Nem sempre muito bem, mas sempre acordava com um sorrisinho no rosto pensando que se tudo desse errado no meu dia, eu poderia mandar uma mensagem e ela responderia me fazer rir e esquecer de tudo.

Um dia chegou um e-mail dela. Li várias vezes até começar a entender. Dizia algo que não entendi muito bem sobre viver sem mim.

(texto inacabado)

9.23.2010

Cookies

Você estava sentada olhando para mim quando um espelho refletiu uma luz. Aquele brilho escapou ao seu controle e iluminou seus olhos.

Acho que foi aquele momento que meu coração pulou uma batida e saiu de compasso.

Em momentos como esse geralmente o tempo pararia para relembrar todo aquele 2007 e os e-mails e mensagens trocadas. Mas nem sempre o tempo concorda com algo e permite tal momento.

-

Estava com olhar frouxo para você, lembrando de como quase tive o toque dos seus lábios nos meus. Tantas vezes que não gosto nem de lembrar a incapacidade de ação que me tomava - e ainda toma - quando estou perto de você. É incapacidade de movimento, de fala, de pensamento. Perto de você eu sou mais um menino bobo que não consegue falar o que pensa, me misturando nos demais.

-

Você olhou pra mim e sorriu. A luz forte bateu no seu rosto com tanta força que você fechou os olhos, mas manteve a mão próximo ao queixo e o sorriso de gratidão por ouvir as palavras que ilustravam seus sentimentos semanas atrás.

E ilustravam o meu também, mas eram mais como uma trilha sonora de um filme com poucos frames, estáticos como um quadro recém pintado, onde a tinta parece escorrer e misturar-se com as outras. Frames onde eu estou ao seu lado em silêncio, frames onde eu fico nervoso e impaciente, frames onde você sorri e o meu frame favorito: seu rosto, em close, mostrando as duas pintinhas que eu amo tanto.

Foi um dia bonito e doloroso, como tudo que me faz dar valor. Dói ouvir aquelas músicas que incansavelmente cantei para você quando você não estava perto e nem pensando em mim. Dói pensar em você tantas vezes por dia só por ouvir algo. Dói ouvir você ao telefone e querer te confessar tudo o que me corrói há alguns anos, mas que vem piorando a cada dia que passa. Dói ser incapaz de ser sincero com você

Ouvir aquilo tudo com você ao meu lado dói. Dói porque sei que não vou poder te tocar, ver você virar pra mim e sorrir, esperando eu acariciar seu rosto e dizer: "Chegou a hora."