Something

Desde domingo sua voz anda ecoando na minha cabeça. Ela não diz nada de mais, só suas interjeições engraçadas de sempre.

Ela aparece nos momentos que eu me distraio de você. Vem quase como uma campainha sutil, um alarme que me avisa que eu não esqueci, que você ainda está lá dentro.
Sempre que estou sozinho sua voz aparece, faz um comentário e some. Aconteceu na hora que acordei e aconteceu agora, quando voltei da cozinha.

Acho que é um pouco menos que uma alucinação. É quase uma reprodução pirata com frases roubada e sem sentido.

E dói.

Dói porque toda vez que escuto sua voz lembro de você naquele vestido azul e florido com o cabelo preso e o óculos de sol com lentes em degradê, escondendo seus olhos. O Sol batia no seu rosto e você sorria pra mim enquanto passa os dedos no meu lábio, só para provocar. Uma brincadeira pra você, mas para mim era a gasolina que explodiria e queimaria por muito tempo, devastando a grama rala que tinha crescido por aqui.

Dói porque não é surpresa. Dói porque destrói tudo desde que você entrou naquele palco e meus olhos esbarraram em você pela primeira vez. Esbarraram na sua roupa branca e meia azul. Você corria e eu via meu coração acompanhar o movimento dos seus cabelos, parcialmente preso por uma faixa.

Foi naquele instante que meu coração parou.

Me perdi naquele dia e nunca mais me achei, me afundando cada vez mais toda vez que te encontrava no corredor daquela universidade gelada. Você sorria e eu derretia, escancarando meu sentimento pra todos que passavam por ali. Eu sei que você percebia, mas ignorava. Talvez para me agradar, talvez não.

Hoje eu lembro de todos os sorrisos pelo vidro, das risadas e de acordar, abrir o olho e acalmar meu coração por você ser a primeira coisa que está do meu lado. E isso dói.

E eu gosto.